terça-feira, 16 de setembro de 2008

Vidas Secas : 70 anos.


Em 1937, Graciliano Ramos escreve à sua mulher:

"Escrevi um conto sobre a morte duma cachorra, um troço difícil, como você vê: procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. [...] É a quarta história feita aqui na pensão. Nenhuma delas tem movimento, há indivíduos parados. Tento saber o que eles têm por dentro. [...] Enfim parece que o conto está bom, você há de vê-lo qualquer dia no jornal. "

Estava pronto, assim, um dos capítulos do romance Vidas Secas, publicado em 1938. A história se passa entre duas secas e apresenta a luta pela sobrevivência de cinco "indivíduos parados" - Fabiano, Sinha Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e Baleia - num ambiente hostil que desestabiliza a família.

Com uma linguagem enxuta e rigorosa, Graciliano Ramos escreve um dos mais importantes romances brasileiros. Pertencente à segunda fase do Modernismo, Vidas Secas tem como objetivo a denúncia social. Através da família de sertanejos - oprimidos pelo sistema, sem direito à cidadania e sem perspectivas de futuro - o autor transforma o que seria um problema regionalista em universal, ao tratar da desumanização do ser, da sua busca pela participação social e pela dignidade. Há equilíbrio entre a análise psicológica e social. Com o discurso indireto livre, mergulhamos no complexo imaginário dos personagens, em contraste com o silêncio predominante entre eles. A história, dividida em 13 capítulos fragmentados e sem ligação, assemelha-se à sua vida vazia. Vale a pena ler.

"Sinha Vitoria combateu a dúvida. Por que não haveriam de ser gente, possuir uma cama igual à de seu Tomás da Bolandeira? Fabiano franziu a testa: lá vinham os despropósitos. Sinha Vitória insistiu e dominou-o. Por que haveriam de ser sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos? Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias. Podiam viver escondidos, como bichos? Fabiano respondeu que não podiam.
- O mundo é grande. "

6 comentários:

ninguém disse...

não sou muito de ler livros. dos poucos q eu li, acho q esse foi o q eu mais gostei. fabiano é tr00!

Túlio disse...

Peron viciou-se na palavra tr00.

Podem repassar pra ele depois :P

Sara Cohim disse...

bom.
verdade.

gosto de vidas secas.

Unknown disse...

Adorei!
Rel... vc está de parabéns!
O texto tá ótimo.

Quem sabe um dia não será vc que vai escrever um Vidas Secas da vida?!
eu torço por vc...
;D

Vab. disse...

parabéns pelo texto, Jéu! muito bem escrito. (fala aqui a experiente crítica da área).

Não gosto muito do livro, é parado, é cansativo. Mas sem dúvida é profundo. Vou tentar mudar minha visão acerca dessa obra.


É, pronto. Beijo, meninas.

Felype's disse...

Eu gosto de Vidas secas, mesmo com todo marasmo e ausência de diálogos. A primeira vez que eu li algo foi em um livro de contos, e o conto era justamente o da morte de baleia. Li e achei fascinante. Para mim é o melhor do livro, e um dos melhores contos que ja li.

Parabéns pelo blog, sucesso pra vcs
=*