sábado, 20 de setembro de 2008

sempre ela...

Na publicação de 20 de agosto da Veja, na matéria "O que estão ensinando a ele" de Mônica Weinberg e Camila Pereira:

'Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização.Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade.Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado'.


A RESPOSTA DE NITA, VIÚVA DE FREIRE:
'Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.
Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.
A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.
Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.
Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas, sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período daDitadura Militar.
Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.
Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!
São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire'

7 comentários:

Tais Bichara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rebecca disse...

meu domingo nublado ficou ainda mais escuro!
a Veja é ridicula!
não merece uma edição se quer!
mas ainda temos blogs e espaço nesse mundo para mostrarmos o outro lado,
paulo freire vive!

ninguém disse...

a veja devia botar logo um pentagrama invertido na capa...

Guilherme Vasconcelos disse...

(In)Veja.

O prestígio da Veja pode ser medido de várias formas. Uma delas é a eficácia de sua campanha contra o governo Lula. Quanto mais ela bate em Lula, mais o presidente bate recordes de aprovação e popularidade. Lula atingiu 64% de aprovação. "Nunca antes neste país" um presidente foi tão bem avaliado. Ou seja, a Veja influencia a opinião pública às avessas.

As críticas raivosas a Paulo Freire são mais um capítulo na jornada odiosa que a Veja encabeça contra tudo e todos que defendam valores humanitários e cidadãos, inclusão e justiça social. Qualquer sinal de esquerdismo - posição ideológica que a Veja trata quase como doença, como desvio moral ou coisa parecida - é motivo para essa revista voltar aos anos da Guerra Fria a alimentar a sua cruzada revanchista.

Veja: exemplo de anti-jornalismo.

Guilherme Vasconcelos disse...

Onde tem "a alimentar" é "e alimentar"

Tais Bichara disse...

totalmente válido. é desanimador imaginar a influência que essa revista tem. mas até mesmo para os que alegavam ser a Veja um veículo imparcial, me pergunto se ainda pensam assim. cada vez mais ela deixa claro - e faz questão disso - o quanto defende posições e pessoas nitidamente anti-esquerdistas, ou mais do que isso: anti-humanitárias.

fico com a Bravo! ;P

Tais Bichara disse...

aliás, não existe imparcialidade no jornalismo.